sexta-feira, 11 de abril de 2008

Altos e baixos


Transtorno bipolar atinge cerca de 10% da população e pode afetar a vida como um todo

Por Thaís Bronzo

Bipolaridade é um transtorno cerebral que causa mudanças no humor, com oscilações entre excessivamente “alto” (euforia e irritação) à tristeza e desespero, com períodos de estabilidade entre eles. Ao contrário dos “altos e baixos” pelos quais todos nós passamos, os sintomas do transtorno bipolar podem causar danos à vida do indivíduo.

“Às vezes a pessoa não percebe que seu comportamento está alterado. Na mania ou euforia, há aumento da energia, exaltação do humor e até irritação sem causa que justifique. Os comportamentos se alteram, a pessoa pode trabalhar demais ou comprar demais, falar excessivamente alto, atribuindo a alteração a algum fator do momento ou da situação. Sua capacidade de julgamento e de avaliar as situações e seu senso crítico estão prejudicadas e isto pode lhe causar graves constrangimentos”, ressalta a psicóloga e psicoterapeuta Sandra Colaiori.

De acordo com a psiquiatra Luísa Weber Bisol, a bipolaridade atinge cerca de 10% da população e mais de 70% têm algum outro transtorno psiquiátrico associado, como ansiedade, alcoolismo, distúrbios alimentares.

Assim como outras doenças mentais, o diagnóstico do transtorno bipolar é feito por meio de entrevista clínica. “Então ele é feito com base no histórico familiar, nos temperamentos pessoais. Não há exames que ajudem no diagnóstico”, explica a psiquiatra.

“Os transtornos de humor constituem-se uma condição humana e que não dispõe de definição genética. Mas existem fatores que irão determinar as transformações do estado afetivo”, relata a psicóloga. “Fatores como excitabilidade, hipersensibilidade psíquica, os fenômenos de despersonalização, alegria em excesso com fuga das idéias que acaba por levar à confusão maníaca. Isto somado às características pessoais e genéticas, aos hábitos e formas familiares de se relacionar e resolver os seus problemas, hábitos de fases anteriores da vida, dará um caráter todo individual àquele quadro naquela pessoa”.

O tratamento da bipolaridade é medicamentoso e psicoterápico. “Ocorre uma combinação de abordagens, como a psicoeducação, para conhecer o próprio temperamento, o seu padrão de humor e a bipolaridade; a psicoterapia; bons hábitos de vida; e tratamento farmacológico com estabilizadores de humor”, relata a psiquiatra.

Existem estabilizadores de humor que não são medicamentosos. “Dormir de sete a nove horas por dia. Praticar exercício físico, principalmente aeróbico. Ter boas relações afetivas, um bom grupo social, ter um confidente. Artes, hobbies, esportes, meditação, ter um animal de estimação. Ter uma alimentação saudável, principalmente ingerir ômega 3. Fazer o que gosta. Ter fé e espiritualidade”, enumera a psiquiatra.

A psicóloga lembra que são necessários persistência no tratamento e, principalmente, não abandoná-lo nas fases intermediárias. “Acho que este é o maior risco, pois os sintomas vão voltando, às vezes, bem devagarinho, sem serem percebidos, e, quando vai ver, o paciente já entrou em novo surto. É preciso evitar que os surtos se sucedam, ampliar os períodos onde o paciente permanece sem sintomas”, afirma.

“Evitar o transtorno, este, como qualquer outro é: respeitar e aceitar a si mesmo; respeitar ao outro; e agir reverenciando este respeito a si e ao outro, ou seja, ser amoroso no trato com cada ser humano”, finaliza a psicóloga.