quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cigarro: só lá fora!


Campanha marca semana de combate ao fumo

Por Thaís Bronzo

O tabagismo foi responsável por 100 milhões de mortes no século 20, de acordo com a Aliança de Controle do Tabagismo (ACT). E a expectativa para este século não é nada animadora: ainda segundo a ACT, se nada for feito, a previsão é de um bilhão de mortes.

Além da sensação de prazer e liberdade, o tabaco é utilizado em ambientes familiares e muitas vezes seu uso é incentivado por parentes e amigos. No entanto, o tabagismo é considerado uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já que a nicotina presente no cigarro causa dependência e alterações físicas, emocionais e comportamentais no usuário. “O tabaco é causador das mais sérias dependências de substâncias psicoativas”, garante o psiquiatra e coordenador da área técnica de atenção ao dependente de substâncias psicoativas da Secretaria de Saúde da cidade de São Paulo, Sérgio Seibel.

Segundo a ACT, o cigarro contém mais de 4.700 substâncias químicas, das quais 60 são cancerígenas, e está associado a diversos tipos de doenças. E o problema se estende para quem não fuma, ou seja, o fumante passivo.

Também chamado de tabagismo passivo e de exposição involuntária ao fumo ou à poluição tabagística ambiental (PTA), o fumo passivo é a inalação da fumaça de produtos derivados do tabaco por não-fumantes. “O tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável no mundo”, ressalta a diretora executiva da ACT, Paula Johns.

Não-fumantes, quando expostos a PTA, podem sofrer efeitos imediatos da fumaça, como irritação dos olhos e nariz, tosse, dores de cabeça e garganta. No caso dos bebês, há um risco maior de ocorrer a síndrome da morte súbita infantil, que é a morte repentina e inesperada, durante o sono, de crianças com menos de um ano, sem uma causa específica. Crianças podem apresentar maior incidência de infecções do ouvido médio, redução do crescimento e da função pulmonar, aumento da freqüência de tosse, chiado e doenças respiratórias. Em adultos, há um risco maior de câncer de pulmão e infarto do coração, além do desenvolvimento e agravamento de bronquite crônica e enfisema.

O que diz a lei?

A proibição do uso de cigarros, cigarrilhas, charutos e cachimbos ou qualquer outro produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em recinto coletivo, privado ou público, virou lei no Brasil em 1996, com a promulgação da Lei 9.294, alterada em 2000 e 2003.

Em 2005, entrou em vigor a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, o primeiro tratado internacional de saúde pública, que recomenda a elaboração e aplicação de leis de ambientes fechados livres de fumo, além da educação da população e a fiscalização do cumprimento da lei.

Mesmo com as históricas leis que “não pegam”, autoridades e a população em geral não estão de braços cruzados. Em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, campanhas como “São Paulo Respirando Melhor”, lançada pela ACT, discutem a questão da saúde ocupacional e as possíveis soluções para o problema do fumo em ambientes fechados.

Paula Johns explica que a campanha não tem como objetivo pressionar o fumante, nem convencê-lo a parar de fumar. “Essas campanhas servem para a população criar consciência da questão da saúde pública, com efeitos didáticos. Mas não basta ser didático, é necessário que todos façam a sua parte”, garante.

O público-alvo da campanha da ACT são os freqüentadores de bares e restaurantes, locais de exposição à fumaça do tabaco. “É uma questão de saúde ocupacional. O garçom, por exemplo, fica exposto oito horas por dia aos efeitos do tabaco, porque é o seu local de trabalho. Então, a ACT tem como objetivo mobilizar a sociedade. E a população está pronta. Em dezembro de 2006 foi feita uma pesquisa em que 85% dos paulistanos aprovam a proibição (de fumo em lugares fechados) e 79% dos fumantes também aprovam”, completa.

Como garantir seus direitos

Todos têm o direito de respirar ar limpo. E uma maneira de saber se o estabelecimento cumpre a lei é o Selo Ambiente Livre do Tabaco. A coordenadora estadual do Programa de Controle do Tabagismo e secretária executiva do Comitê para Ambientes Livres de Tabaco (Cepalt), Luizemir Wolney Carvalho Lago, explica que o selo é voluntário e serve para promoção da saúde, já que garante que é proibido fumar no local, com placas de proibição e sem cinzeiros. “Para a população saber o que é bom e o que é ruim. Quando a Secretaria estimula a não permitir fumar em suas dependências, nem os fumódromos, a pessoa toma consciência de que faz mal”, crê. “Pesquisas internacionais revelam que pessoas fumantes acabam fumando menos. Então, melhora a qualidade de vida de todos”.

Além do selo, a ACT dá algumas dicas para garantir o cumprimento da lei em ambientes fechados: fale com o responsável pelo local sobre a existência da lei e a necessidade de sua aplicação; e denuncie para as autoridades responsáveis, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou vigilâncias sanitárias estaduais os locais que não cumprem a lei.

“O tabagismo é uma tradição antiga, mas é uma batalha da vida contra a morte”, finaliza o médico e vereador de São Paulo (PSDB), Gilberto Natalini.

Lembre-se: nunca é tarde para parar de fumar!