sexta-feira, 11 de abril de 2008

Programa incentiva doação de urina


Hormônio eliminado por grávida vira matéria-prima para produção de medicamento

Por Thaís Bronzo

Ser mãe, para muitas mulheres, pode representar um sonho inalcançável. E os motivos são variados. De acordo com o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, Caio Parente, cerca de 15% dos casais têm dificuldade para ter filho, sendo 40% por problemas relacionados ao sexo masculino, 40% ao sexo feminino e 20% aos dois.

Parente explica que todas as mulheres produzem dois tipos de hormônio: o Hormônio Folículo Estimulante (FSH, da sigla em inglês), que permite com que o óvulo cresça dentro do ovário, e o Hormônio Luteinizantes (LH), que faz o óvulo amadurecer. “Quando a mulher engravida, a quantidade desses hormônios aumenta e surge com a placenta o hormônio HCG”, relata. “O HCG estimula a ovulação e é um anti-abortivo, por isso sua quantidade é maior durante as 18 primeiras semanas de gestação, tornando a gravidez possível”.

E é exatamente este hormônio, produzido pelas grávidas, que serve de matéria-prima para a fabricação de medicamentos de combate a infertilidade feminina. “Depois que o organismo utiliza o hormônio HCG, ele é expelido pela urina. Quando a recolhemos a urina, estamos reaproveitando este hormônio”, destaca Parente.

Pensando nisso, foi criado, em 1986, o Programa HCG, que estimula a doação de urina pelas grávidas. “Para participar é muito simples: basta doar a urina durante os primeiros meses de gravidez”, Sílvia Lopes, gerente do programa. Como fez a autônoma Celi Caiado Regra, 46 anos, mãe de Bruna, 12, e Derik, 7. “Na primeira gravidez, eu não conhecia o programa, por isso, não doei. Mas, na segunda gestação, vi um anúncio sobre o programa HCG e resolvi me inscrever”, lembra. “Eu considerei a necessidade, a oportunidade de ajudar uma mulher que tem dificuldade de engravidar, de poder ter um tratamento”.

Segundo Sílvia, podem ser doadoras de urina as mulheres que estejam até, no máximo, o terceiro mês de gravidez para começar a doar, e que residam em cidades do Estado de São Paulo e Minas Gerais. “Inclusive as mulheres que se submetem a tratamento de infertilidade podem ser doadoras”, ressalta. Sílvia explica que a doação dura somente até a 18ª semana de gestação, ou seja, quatro meses e meio de gravidez. “Depois disso fica muito difícil extrair o HCG da urina”, garante.

Para doar a urina, a gestante precisa se cadastrar no Programa HCG por meio do telefone 0800-559022 (ligação gratuita) ou pelo site
www.programahcg.com.br. Após a inscrição, uma equipe de agentes de coleta visita o endereço indicado pela doadora (casa ou trabalho) e entrega os frascos para que a grávida comece a coletar a urina do dia inteiro (desde manhã até a noite). “Esses frascos contém um conservante que mantém o hormônio da urina até ela ser retirada. Isso dispensa a necessidade de manter o líquido no refrigerador”, detalha. “Posteriormente, a cada quatro dias, os agentes retornam para retirar a doação e entregar novos frascos limpos e com conservante para continuidade da doação”.

O hormônio HCG é extraído da urina e encaminhado às empresas que o utilizam na produção de medicamentos, que são vendidos apenas com prescrição médica a pacientes que sofrem com a infertilidade.

Celi conta que doar é muito fácil. “No início a gente vai se adaptando, a barriga vai crescendo, ficando pesada, mas a satisfação em poder ajudar é maior”, relata. “Na época falei para a minha filha, que tinha quatro anos, que eu estava doando urina e ela queria saber, ver como era, ela se interessou. Se precisasse doar de novo, eu doaria!”.