sexta-feira, 11 de abril de 2008

O que é ser normal?


A loucura como doença ou uma forma diferente de ver o mundo a nossa volta

Por Thaís Bronzo


Na sociedade em que vivemos, quem pode ser considerado normal? E quem é louco? Atualmente, a palavra “loucura” é utilizada para designar pessoas ou situações incomuns, muitas vezes até como um elogio. “Trata-se de uma doença triste, uma trágica dimensão da existência! Ela não diz respeito apenas a quem é louco, mas a todos nós”, alerta o sociólogo Rafael de Paula Aguiar Araújo, que também é professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).

A loucura é o nome popular dado aos transtornos mentais. “Ou seja, uma série de doenças que se manifestam principalmente por alterações na percepção da realidade, nos pensamentos e no comportamento dos indivíduos afetados”, explica o psiquiatra Antonio Leandro Nascimento, colaborador do projeto “ABP Comunidade
da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que reúne informações voltadas ao público sobre os principais transtornos, síndromes e doenças relacionadas à saúde mental.

De acordo com o sociólogo, a loucura, especificamente nas sociedades ocidentais, é vista como uma anomalia, que leva a exclusão e provoca uma inquietação nas pessoas comuns, a ponto de reclamarem tratamentos e confinamento para o louco. “A partir do momento em que a loucura passa a ter o estatuto de doença mental, loucura e razão passam a ser coisas totalmente distintas, e cria-se um saber racional para o entendimento do louco. Mas esse saber é bastante abstrato e o seu entendimento é algo bastante impreciso”, detalha.

O psiquiatra explica que os transtornos mentais podem ocorrer de diversas formas. “Tradicionalmente, ouvir vozes que outras pessoas não conseguem ouvir (alucinações auditivas) e ter pensamentos que não correspondem à realidade (delírios), como acreditar que está sendo perseguido por diversas pessoas, são sintomas reconhecidos facilmente como sinais de transtornos mentais”, exemplifica. “As doenças mentais, entretanto, manifestam-se de diversas outras formas, algumas das quais não são facilmente reconhecidas. Depressão, atos repetitivos (como lavar as mãos repetidamente por medo de estar contaminado), medos exagerados, alterações na forma como a pessoa se alimenta, dificuldades de memória e diversas outras alterações na maneira como os indivíduos percebem a realidade, pensam e se comportam podem ser sinais de transtornos mentais”.

É importante saber que os transtornos mentais freqüentemente causam sofrimento às pessoas que são acometidas e às pessoas que estão à sua volta e por isto o diagnóstico e o tratamento precoces são muito importantes para o alívio deste sofrimento. “Para que estes transtornos sejam diagnosticados é necessário que as pessoas que podem estar doentes sejam examinadas por um psiquiatra. Ele poderá diagnosticar se estas pessoas estão sofrendo de algum transtorno mental e indicar o tratamento adequado, envolvendo o uso de medicamentos e o uso de outras técnicas, como a psicoterapia”, garante o psiquiatra.

O sociólogo afirma que a loucura apresenta a possibilidade de um mundo totalmente distinto: aquele que participa desse mundo não se comunica com o mundo normal. “Mas, na mesma medida que o louco não é capaz de acessar o meu mundo e fazer parte dele, eu também não sou capaz de fazer o mesmo e ingressar em seu mundo misterioso. São linguagens diferentes”.

E não existem meios de evitar a loucura. “Mas é possível, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, obter alívio rápido dos sintomas e evitar as conseqüências sobre a vida pessoal, familiar e profissional dos portadores de transtornos mentais. Os melhores meios de fazer isto são conseguir informações sobre as diversas formas de transtorno mental e procurar auxílio médico assim que começar a sentir algum sintoma”, aconselha o psiquiatra.

“Eu acho que é possível, hoje em dia, olhar para a loucura de uma maneira diferente. É possível reconhecer que existem diferenças entre as pessoas na forma como se comportam e se comunicam e ainda assim reconhecer que são pessoas”, reflete o sociólogo. “Podemos fazer um exercício e tentar aceitar o modo de ser do diferente como mais uma forma de habitar o mundo e não como uma forma errada ou pior. Não podemos classificar alguém como louco a partir de nosso padrão de normalidade e não devemos fazer isso. É preciso olhar para essa pessoa a partir do seu próprio padrão de normalidade, buscando identificar seu sofrimento, suas restrições. Ser diferente não é o mesmo que ser louco”.