quinta-feira, 10 de abril de 2008

Refluxo atinge 67% dos bebês entre 3 e 4 meses


Doença pode causar anemia, dor no estômago, desconforto no peito, vômito e problemas no aparelho respiratório

Por Thaís Bronzo

Quando tinha apenas um mês e meio de vida, Nicole Soares chorava muito após mamar. “Fomos ao pediatra que constatou que ela tinha refluxo”, relembra a mãe da menina, Priscilla Soares.

O que Nicole teve é comum em bebês, mas pode ocorrer em qualquer idade. “Sua prevalência atinge 67% dos bebês entre três e quatro meses de idade. No fim do primeiro ano de vida, somente 5% dos bebês continuam apresentando sintomas”, explica a gastropediatra Marisa Laranjeira.

O refluxo gastroesofágico é o retorno do conteúdo do estômago ao esôfago, causado pelo aumento do número de vezes que uma válvula (esfíncter), localizada entre o esôfago e o estômago, relaxa. “Todos nós temos relaxamento desta válvula, por exemplo, quando comemos, bebemos, deglutimos saliva, tossimos ou defecamos. Quando o número de relaxamentos ultrapassa em muito o normal, o refluxo pode se instalar”, relata Marisa. Outra causa é o tempo que o estômago leva para esvaziar. “Crianças que tem o estômago ‘preguiçoso’ (má digestão) podem ter refluxo”, completa.

“A maioria apresenta o refluxo gastroesofágico fisiológico, que se manifesta através da regurgitação e do vômito, sem comprometimento do ganho de peso e estatura ou associação com qualquer outro sintoma”, explica Marisa. Porém, o refluxo pode ser de origem patológica.

A doença do refluxo gastroesofágico ocorre quando o conteúdo do estômago, ao voltar para o esôfago, causa esofagite de refluxo e sintomas que não se localizam no aparelho digestivo. “Os bebês com esofagite de refluxo podem apresentar-se com irritabilidade noturna, choro, anemia de difícil controle e dificuldade de ganho de peso e estatura”, enumera Marisa. “Em crianças maiores, a esofagite geralmente apresenta-se com dor na boca do estômago, queimação ou desconforto no peito e vômitos”. Quanto aos sintomas extradigestivos, os mais comuns são os que acometem o aparelho respiratório, como chiado no peito, bronquite, tosse crônica, laringite, rouquidão, otite, sinusite, pneumonias de repetição e apnéia (parada da respiração).

Segundo a gastropediatra, o refluxo pode ser diagnosticado pelos sintomas, sem a necessidade de exames. “Nos casos duvidosos, existem alguns exames. A decisão de qual exame deva ser pedido inicialmente vai ser do profissional que estiver seguindo esta criança”, alerta Marisa.

O tratamento do refluxo é feito com mudanças na alimentação e na postura. “Nas crianças com a doença do refluxo gastroesofágico, há a utilização de medicamentos que melhoram a tonicidade da válvula do esôfago e que diminuam a secreção ácida produzida pelo estômago”, garante Marisa. Priscilla Soares encontrou uma maneira caseira de ajudar Nicole. “Uma coisa que deu certo foi levantar o colchão do berço uns 30º graus, eu coloquei uma almofadinha embaixo”, indica.

A gastropediatra alerta para a duração do tratamento. “É bom lembrar que o tratamento do refluxo é prolongado, no mínimo por dois a três meses, e a doença pode voltar”.

Adeus refluxo

Nutricionista dá dicas de como evitar ou tratar essa doença

Os hábitos alimentares e os tipos de alimentos podem ter um papel significativo no início, tratamento e prevenção da doença do refluxo gastroesofágico, melhorando a sensação de bem-estar e a qualidade de vida.

Para isso, basta seguir as dicas da nutricionista Silvana Freda Demerov:
-Evitar a ingestão de sobremesas ricas em gorduras e de refeições volumosas, principalmente duas a três horas antes de deitar, pois as mesmas retardam o esvaziamento gástrico, estimulam quantidades significativas de secreções gástricas, aumentando a probabilidade de refluxo;
-Evitar chocolate, álcool e bebidas que contenham cafeína, pois estes estimulam a secreção do ácido gástrico e aumentam o refluxo;
-Os alimentos com pH ácidos, como tomates, sucos cítricos e os refrigerantes, podem causar uma dor intensa quando o esôfago está inflamado;
-Fracione sua dieta e diminua o volume das refeições;
-Tenha o hábito de sentar-se para comer e alimente-se devagar mastigando bem os alimentos;
-Evite ingerir líquidos durante as refeições ou após;
-Evite atividades físicas vigorosas logo após as refeições; e
-Evite roupas apertadas, especialmente após as refeições.