quinta-feira, 10 de abril de 2008

Emprego está difícil para idosos

Terceira idade sofre para se recolocar no mercado de trabalho

Por Thaís Bronzo


O Brasil está envelhecendo. Estatísticas da Organização Mundial da Saúde apontam para um aumento de 16 vezes na quantidade de idosos contra cinco da população total, entre os anos de 1950 e 2025. Isso significa que seremos o sexto maior país em população idosa do mundo.

“Essa mudança provoca uma reestruturação na maneira de se olhar para essa questão. Se antes a gente tinha um olhar daquela pessoa que se aposentava, e aí ia morar na praia ou cuidar dos netos. Hoje não. São pessoas ativas, que estão aí estudando, cuidando da sua condição física, buscando aprender, participando”, diz a pedagoga e gerente de Departamento de Responsabilidade Social de empresa de Recursos Humanos, Maria de Fátima e Silva.

Quase 16% da população brasileira, ou seja, 27 milhões de pessoas, têm mais de 50 anos. São homens e mulheres experientes que, além de tentar reforçar a aposentadoria, mostram que possuem muita energia para trabalhar.

“São segmentos da população significativos e que estão exigindo o olhar da sociedade, das empresas, da educação, no sentido que a gente possa manter a sustentabilidade da sociedade. São pessoas que podem produzir, mas que também podem comprar”, atesta Maria de Fátima.

Com o ser humano vivendo mais e o número de aposentadorias aumentando, o sistema previdenciário encontra dificuldades para pagar os benefícios. Na década de 50, o Brasil contava com 80 trabalhadores para cada dez aposentados. Meio século depois, o número caiu para apenas 12. Assim, sair do mercado de trabalho aos 50 anos se tornou precoce.

“O mercado está se aquecendo? Está. Ainda com alguns equívocos. O conceito não é: eu trago uma pessoa de terceira idade porque ela está aposentada e ela vai complementar a sua renda. Não. Eu trago um profissional que tem valores, que tem competência e que vai agregar no mercado”, afirma.

Mas ainda existe uma barreira a ser transposta. “Apenas 9% das empresas do mercado contratam pessoas acima de 50 anos de idade. É um quadro, portanto, triste, porque é preconceituoso”, alerta o diretor de recursos humanos de uma indústria farmacêutica, Floriano Serra.

Mas apesar disso, os benefícios para quem continua ou volta à ativa após os 50 vão além do salário no final do mês. “Quando o idoso tem a oportunidade de mostrar para a comunidade, para o mercado, que ainda é um cara útil, que ainda é um cara competente, ele volta com o dobro de motivação. É um pessoal que não dá problema nem em matéria de saúde, como muita gente pensa, e muito menos em matéria de motivação”, coloca Serra. “Quando eu parar por completo, isso vai me faltar, eu vou sentir falta dessa interação no dia-a-dia”, afirma o diretor de vendas João Alfredo Perroud Silveira, de 66 anos.

O trabalho também pode trazer mudanças positivas para a família. “Muda tudo. Aumenta o respeito dele na família, ele deixa de ser dependente”, crê Serra. “A minha filha me critica muito, a minha mulher diz: ‘você deve continuar porque senão você vai me amolar aqui em casa’. Mas num contexto geral eles acham que eu estou certo ainda”, conta Silveira. “A minha rotina é normal. Eu trabalho, cuido da minha casa. E se eu puder fazer um curso, eu faço”, fala a recepcionista Maria Silvia Illiceto, de 66 anos.

A garra e a experiência desses trabalhadores ajudam principalmente quem está no início da vida profissional: os jovens. “Sempre nos respeitam e tratam a gente como iguais. Não vêem a diferença de idade, mas como pessoa mais experiente e que eles com isso conseguem assimilar muita coisa e somar aquilo que eles já conhecem”, ressalta o gerente de promoção e vendas, Tomé Castro, de 65 anos. “O jovem é sinônimo de ímpeto, energia, impulso. O idoso é sinônimo de serenidade, reflexão, ponderação, cautela. Dá uma mistura tão legal você juntar a sabedoria do idoso com essa energia do jovem”, aponta Serra.

E para quem pensa em desistir. “Eu sinceramente estava pensando em me aposentar, mas não tenho vontade, não, por enquanto, não, acho que ainda tenho muito para aprende”, acredita o encarregado de inspeção de controle de qualidade, José Basílio de Medeiros, de 52 anos. “Eu acho que trabalhar é sentir prazer naquilo que você faz. Não adianta você trabalhar se você não gostar daquilo que faz. Eu adoro aquilo que faço, faz tempo. Tanto que se eu não adorasse, hoje eu não estaria aqui trabalhando”, finaliza Silveira.