sexta-feira, 11 de abril de 2008

Atenção! Sua pele pede cuidado


Nesta época do ano, a exposição ao sol é maior e os problemas de pele, como o câncer, podem aparecer

Por Thaís Bronzo

A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo a 15% do peso corporal. É um órgão que delimita e reveste o organismo, protegendo-o e servindo de ligação com o meio externo. “É constituído de três camadas: a epiderme, externa, de revestimento; a derme, intermediária, que dá resistência; e a hipoderme, ou subcutâneo, camada de gordura que dá o ‘acolchoamento’ do órgão. Estas três camadas constituem um órgão dinâmico, elástico, protetor, que se renova constantemente, que é bastante impermeável, funcionando na regulagem da temperatura corporal, na homeostasia e na regulagem e excreção de toxinas”, explica o dermatologista Lucio Bakos, chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Além disto, tem função sensorial, de defesa contra as agressões físicas, químicas, biológicas, metabólicas, imunológicas. A pele interage com órgãos internos e muitas doenças internas se manifestam primeiramente na pele”.

“Desde jovem, eu não tenho costume de tomar sol, pois tenho a pele muito clara. Por conta disso também, não tinha o costume de utilizar protetor solar”, lembra a aposentada Vilma Marini Divetta, de 79 anos.

“Antigamente não se falava em doenças de pele. Isso é um assunto relativamente novo. Eu costumo caminhar bastante durante o dia, quase sempre sem proteção”, afirma o aposentado Geraldo Divetta, de 82 anos, marido de Vilma.

A falta de cuidados com a pele pode causar danos terríveis, como o câncer. “Normalmente, todas as células dos tecidos do organismo se dividem e se reproduzem de maneira ordeira e uniforme, para que se possa crescer, repor tecidos desgastados e cicatrizar lesões. Por vezes, as células fogem do controle, dividindo-se mais rápido e em maior número que deveriam e formam massas conhecidas por tumores. Os tumores malignos são aqueles que não somente invadem ou destroem tecidos normais do corpo, mas também podem se instalar em locais longe do foco inicial, continuando sua agressão - as metástases”, detalha Bakos, que também é coordenador da Campanha de Prevenção ao Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

De acordo com o dermatologista, os cânceres de pele podem ser:
-Os carcinomas, originados da epiderme, são cânceres epiteliais, das células de revestimento da pele. Existem dois tipos de carcinomas: o basocelular e o epidermóide;
-Os melanomas, originados das células produtoras de melanina - os melanócitos; e
-Os sarcomas e linfomas, originados da derme e da gordura, assim como dos vasos sanguíneos, dos glóbulos brancos na pele e dos nervos. São muito raros e não relacionados com o sol, por serem mais profundos em sua origem.

Os tipos mais freqüentes são o carcinoma basocelular, o carcinoma epidermóide e os melanomas. “Carcinoma basocelular (o tipo mais comum de câncer de pele, cerca de 75% do total) se apresenta como uma ferida que não sara, geralmente originada em um carocinho translúcido, mais freqüentemente na face. Tem crescimento lento, sendo o de mais fácil cura. Não costuma dar metástases”, detalha o dermatologista. “Carcinoma epidermóide (20% de todos os cânceres de pele) se apresenta como uma verruga endurecida, por vezes com uma ulceração na superfície, comum na face, lábio inferior e dorso de mãos. As metástases podem ocorrer, principalmente para linfonodos ínguas regionais”, diz.

“Melanomas, embora menos freqüentes que os outros cânceres, são extremamente mais perigosos. Podem se instalar em sinais pré-existentes ou aparecer em pele normal”, alerta. “Nas campanhas de esclarecimento utilizamos um lembrete para alertar sobre melanomas, ensinando o ‘ABCD’: A - Assimetria da mancha (passando uma linha no meio, um lado diferente do outro); B - Bordas irregulares (geralmente um sinal benigno é arredondado ou oval, não irregular); C - Cores variadas (preto, marrom, castanho e róseo na mesma mancha); D - Diâmetro acima de seis milímetros (a grossura de um lápis e em crescimento). Alguns acrescentam E - Elevação (caroço preto em crescimento)”, ensina.

“Apareceu uma bolinha perto do nariz. Fui ao dermatologista, que suspeitou de câncer de pele. Ele tirou um pedaço para fazer biópsia e constatou que era câncer”, lembra Vilma.

“O meu caso também era uma bolinha no rosto. Eu achei que não fosse nada, mas quando fui ao médico, já era câncer”, completa Divetta.

“O número geral de cânceres de pele tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Considerando o melanoma, o mais agressivo dos cânceres de pele, sua incidência aumentou, em alguns estados da Região Sul do Brasil, de três para 12 por 100 mil habitantes”, contabiliza o dermatologista. Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o número de casos novos de câncer de pele não melanoma estimados para o Brasil em 2008 é de 55.890 entre homens e de 59.120 nas mulheres.

O dermatologista explica que a pessoa pode ter alguns fatores predisponentes para ter câncer de pele: pele clara (o câncer de pele é mais raro nos negros e asiáticos); predisposição familiar, em certos casos (melanomas); doenças cutâneas predisponentes (albinismo, xeroderma pigmentoso, nervos displásicos); exposição excessiva ao sol e a outros cancerígenos (raios x, alcatrões). “Havendo a junção destes fatores, o risco de câncer de pele é bem maior do que na população em geral. Os carcinomas são mais encontrados em pessoas de pele clara em contato crônico com o sol, principalmente em populações rurais, como os lavradores, pescadores. Já o melanoma é mais encontrado em indivíduos urbanos, que tiveram muitas queimaduras solares na infância e adolescência, principalmente durante o lazer”, alerta.

Se você abusou e corre o risco de ter câncer de pele: atenção! O diagnóstico precoce é importantíssimo, pois nele estão as maiores chances de cura. “Quanto mais no começo, tanto mais certa é a cura, quando ainda o tumor não teve a possibilidade de se espalhar”, garante o dermatologista. “O diagnóstico é feito pela suspeita clínica e a confirmação através de uma biópsia do tumor. De preferência, nos melanomas é feita uma remoção total da lesão, não somente de um pedaço, como nos outros cânceres da pele”.

E para quem já foi diagnosticado com câncer, acalme-se, a doença tem tratamento. “A cirurgia é fácil na medida que diagnostica precocemente. Retira o tumor com margem de segurança, para que ele não volte. Quando é recente, bastam alguns pontos e pronto. Quando diagnosticada mais tardiamente, pode dificultar um pouco mais. Pois pode gerar mutilações e até exigir uma cirurgia plástica”, explica o cirurgião cancerologista Ricardo César Pinto Antunes, que também é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

Melhor prevenir do que remediar

Especialista dá dicas para evitar o câncer de pele

A causa mais importante de câncer de pele é a superexposição à luz solar, inclusive as lâmpadas de bronzeamento artificial. De acordo com o dermatologista Lucio Bakos, que também é coordenador da Campanha de Prevenção ao Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, indivíduos de pele clara, especialmente os de cabelos loiros ou ruivos, possuem mais probabilidade de ter câncer de pele. “Isto porque possuem pouca melanina‚ o pigmento que protege a pele contra a queimadura solar. Quanto mais escura a pele, mais melanina possui”, explica. Os negros, que possuem a maior quantidade de melanina, têm as menores chances de ter câncer de pele e, quando o fazem, este se apresenta nas áreas onde a melanina é mais escassa, como, por exemplo, palmas das mãos e plantas dos pés.

O sol é o cancerígeno mais importante para a pele clara das últimas décadas, pois é o único que permaneceu e até aumentou sua ação e seu uso, apesar do aumento dos conhecimentos científicos. “Trabalhos científicos correlacionam o sol com o câncer de pele de duas maneiras: o dano cumulativo, ou seja, mesmo o sol ocupacional (lavradores, pescadores, marinheiros -incluindo velejadores freqüentes -, trabalhadores da construção) ou um pouco de sol no mesmo local, a longo prazo, em pessoa suscetível, pode desencadear um carcinoma, que é o câncer de células de revestimento”, ressalta. Por isso que cerca de 80% dos carcinomas de pele são de face. “Por outro lado, existe uma nítida correlação entre número de queimaduras solares e de sol de lazer com os melanomas de pele, que incidem principalmente em áreas normalmente cobertas e em pessoas jovens que normalmente não tem contato freqüente com o sol e que querem ‘bronzear’ apanhando muitas horas de sol em um fim-de-semana”.

Além disto, 80% do sol cancerígeno e que enruga é absorvido antes dos 25 anos de idade! Desta forma, temos que reduzir o número de horas de exposição ao sol em nossa vida, principalmente na infância e adolescência. O dermatologista recomenda três coisas para que a pele não se complique com a idade:
-Nunca deixar a pele ficar vermelha com o sol, desde a infância. Usar roupas protetoras, filtros solares, guarda-sóis, chapéus, sombra de árvores, tetos, enfim, bom senso e procurar tudo que reduza o número de horas de UVB (raio ultravioleta de onda curta - que queima e é cancerígeno - mais forte das 10h às 15h);
-Não bronzear em excesso (quanto mais escuro o bronzeado, mais UVA foi absorvido - raio ultravioleta de onda longa, presente todo o dia, pois não é filtrado pelo ozônio, que pode desencadear melanomas e rugas); e
-Auto-exame da pele, a cada dois meses. Notou alguma lesão suspeita, procure um médico. Sempre chegará mais precocemente a um diagnóstico e a uma solução do problema.