sexta-feira, 11 de abril de 2008

Luto: é preciso superar


Como eu, você, amigos e familiares devemos encará-lo?

Por Thaís Bronzo

“É uma coisa que a gente nunca esquece”. Assim a dona-de-casa Maria Conceição Piassi, de 69 anos, explica o que sentiu ao perder o marido há um ano e meio. “Durante 18 anos ele conviveu com a doença de Alzheimer. Eu esperava a morte dele, mesmo assim, fica um vazio”.

Esse sentimento após a morte de um ente querido, chamado de luto, é um processo de adaptação emocional. “É uma reação – normal e esperada – diante da perda de alguém com quem se tinha um vínculo afetivo”, garante a psicóloga Valéria Tinoco, que também é professora do curso de especialização em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto do 4 Estações Instituto de Psicologia. “O processo de luto também ocorre diante da experiência de outras situações que envolvem perdas. Por exemplo: separação, adoecimento, perda de um ideal, aposentadoria”.

A professora de antropologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP), Caroline Cotta de Mello Freitas-Hupsel, explica que o luto é uma manifestação social que revela duas questões importantes. “Por um lado revela como determinado grupo social lida com a morte e, por outro, como este mesmo grupo lida com a vida. Todas as sociedades e culturas humanas possuem formas próprias de entender a morte e de lidar com o momento posterior à morte de alguém”.

Assim, existe uma série de sintomas, reações e comportamentos que são freqüentemente manifestados pelos enlutados, tais como: choro, tristeza, depressão, agitação, insônia ou excesso de sono, alteração do apetite, euforia, alívio, dificuldade de concentração. “Isso não quer dizer que todas as pessoas enlutadas devem ou vão sentir estas reações. Algumas pessoas podem sentir algumas ou várias delas, outras podem não sentir ou sentir apenas após um certo período de tempo”, afirma a psicóloga.

“Quando a pessoa recebe a notícia da perda, pode haver uma reação inicial de negação, como se a pessoa não pudesse acreditar no que aconteceu. Após esta primeira etapa, quando vai se dando conta de que a perda aconteceu mesmo, ela pode se sentir em depressão e é quando um maior sentimento de tristeza se manifesta. Somente após o enlutado aceitar que a perda aconteceu é que ele poderá elaborar esta perda e se recuperar desta experiência”, detalha a psicóloga.

Logo após a morte do marido, Maria Conceição se desfez dos pertences dele. “Ainda tem um pouco de roupa. Mas não deixo fotos espalhadas pela casa. A gente não precisa de fotos para lembrar”, diz, emocionada.

A psicóloga alerta que não é possível precisar quanto tempo leva o processo de luto. “Podemos dizer que o luto nunca termina, pois sempre estamos elaborando a relação que foi modificada pela perda. Por outro lado, quando sentimentos positivos começam a surgir, a dor começa a diminuir e podemos lembrar desta relação não só com dor, podemos dizer que o luto está sendo elaborado. Dificilmente este processo dura menos de um ano”, garante.

E para a elaboração do luto, amigos e familiares têm papel importante. “O apoio emocional neste momento é um fator que ajuda no processo de elaboração. A ajuda prática que as pessoas mais próximas podem dar neste momento é muito bem-vinda. Exemplos desta ajuda prática seriam: cuidar do funcionamento da casa (comida, contas a pagar) e ajudar no cuidado das crianças”, enumera a psicóloga. “É preciso que estas pessoas aceitem e respeitem as expressões de sofrimento sem querer que a pessoa ‘melhore rápido’. Falar coisas como ‘não chore’, ‘vai passar logo’, ‘foi melhor assim’, não ajuda! Mais do que falar, neste momento é preciso que quem esteja ao lado do enlutado seja um ‘bom ouvido’ e esteja atento às necessidades daquela pessoa, lembrando que nem todo mundo sofre da mesma maneira e que aquela experiência não pode ser comparada a outra”, completa.

Além disso, é importante que o enlutado respeite os próprios sentimentos. “Saber que, por um determinado período de tempo, ele possivelmente não poderá dar conta das coisas que normalmente daria, já que o período de luto é um momento onde não funcionamos no nosso ‘estado normal’ e, muito importante, pedir ajuda se necessário, sem que isso seja considerado sinal de fraqueza”, conclui a psicóloga.