quinta-feira, 10 de abril de 2008

Dislexia atrapalha aprendizado

Distúrbio afeta entendimento da leitura e da escrita das pessoas

Por Rodrigo Herrero e Thaís Bronzo


Você escreve coisas que ninguém consegue compreender. Também não consegue ler um texto, jornal ou revista. Você não consegue se expressar, pois os pensamentos “embolam” na hora de falar ou seus filhos têm dificuldades em aprender e vão mal na escola. Isso não é um problema comum de simples, trata-se de um distúrbio que se chama dislexia.

“Eu convivo com um problema que eu não sabia exatamente o que era. Era muita dificuldade para ler, era muita dificuldade para escrever e pouca compreensão”, relata Cláudio Teixeira, de 39 anos. “É engraçado que, às vezes, em trabalho em dupla, eu vou bem na parte oral, mas na parte de escrita, os professores até falam ‘Pô, Philip, por que?’. Na classe eu sou chamado de Philip. ‘Pô, Philip, por que você vai bem na parte oral, mas na parte escrita não vai bem?’”, diz Luiz Philip N. Moreira, de 15 anos, que também sofre do problema.

Segundo informações da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a dislexia atinge cerca de 10% da população mundial. A psicóloga Maria Mônica Bianchini, especializada em diagnóstico de dislexia, da ABD, aponta que este é um distúrbio hereditário, mas não se trata de doença. “A dislexia afeta a leitura e a escrita da pessoa. É uma disfunção do cérebro, uma má decodificação deste”, afirma.

A psicóloga afirma que a pessoa que possui dislexia apresenta dificuldade em compreender um texto e tem uma leitura muito lenta. “Ela pode também confundir as letras: ler ‘P’ e achar que é ‘B’, confundir ‘F’ com ‘V’, ‘L’ com ‘U’, mas isso não é freqüente”, explica. “A cartilha chamava ‘Cartilha Sodré’ na época. Era ‘a pata nada, a pata pata’. Eu olhava, o professor, ‘leia’! ‘P-a-t-a’. Eu não conseguia ver a palavra ‘pata’, era ‘p-a-t-a’”, conta Maurício Abdala, de 56 anos.

Só é possível identificar a dislexia quando a criança está na escola, onde é possível perceber a dificuldade da pessoa. “É preciso fazer um trabalho de conscientização na parte fonética, e também um trabalho multisensorial. Na verdade é feita uma realfabetização da criança, em que ela vai aprender como escrever e ler devidamente”, diz. Esse trabalho é multidisciplinar e abarca as especialidades de fonoaudiologia, psicopedagogia e psicologia.

A dislexia não apresenta cura, mas, no caso do grau ser leve, a pessoa pode nem perceber e viver uma vida normal, não impedindo que a pessoa desenvolva suas habilidades e inteligência. “A pessoa vai nascer e morrer com esse distúrbio. Mas, nos tratamentos feitos ela pode melhorar de 70% a 80%”, afirma.

Já nos graus moderado e severo, a dislexia pode atrapalhar e levar até a criminalidade, em situações extremas. “Isso ocorre porque o problema afeta a auto-estima da pessoa. As pessoas passam a chamá-lo de burro, de preguiçoso, que não quer saber de estudar”, coloca.
“Isso tem um custo emocional para a família, que vai, coloca uma expectativa para aquela pessoa. O que acontece com muitas crianças, por exemplo, que tem a dislexia. Elas se percebem diferente: ou porque estão estudando, se esforçando. Hoje mesmo eu atendi um menino que falava isso ‘eu estudo muito e aí quando chega na escola eu tiro uma nota, no máximo, na média’”, completa a psicóloga e psicopedagoga Áurea Stavale Gonçalves.