sexta-feira, 11 de abril de 2008

A união que faz a força


Inclusão social, trabalho e renda: esse é o objetivo da economia solidária

Por Thaís Bronzo

Solidário, de acordo com o dicionário, significa “em que há responsabilidade recíproca ou interesse comum”, “que depende um do outro”. Assim podemos diferenciar a economia que predomina no Brasil, a capitalista, e a economia solidária.

“Simplificando, na economia capitalista há uma separação entre aqueles que são proprietários dos meios de produção em geral, como máquinas, equipamentos, instalações, matérias-primas, o próprio dinheiro, e aqueles que só tem a sua capacidade de trabalhar”, explica o economista Marco Antonio Nascimento Pereira. “Estes, que chamamos em geral de trabalhadores, vendem a sua capacidade de trabalhar ao capitalista e trabalham então como assalariados (observando-se que há outras formas de contratação). Portanto, a cooperação que existe entre trabalhadores e capitalistas é uma cooperação entre aspas, ela é forçada, não há como sobreviver senão vendendo a sua capacidade de trabalhar”.

A economia solidária é uma alternativa econômica e social que se dá por meio de trabalho e renda. “É organização coletiva da produção, da comercialização e do consumo de forma que todos os trabalhadores decidem e controlem de forma democrática as atividades de seus empreendimentos”, afirma o integrante da Coordenação Executiva do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) pela Associação Nacional dos Trabalhadores e Empresas de Autogestão (ANTEAG) Luigi Verardo.

“Ela se dá através das associações, troca solidárias, recuperação de empresas em processo falimentar pelos seus trabalhadores através da autogestão, finanças solidárias, cooperativas de crédito, bancos comunitários, fundos solidários, redes e cadeias solidárias, comunidades tradicionais (quilombolas e indígenas), cooperativas autogestionárias de produção, de comercialização, habitacional e consumo”, enumera Verardo.

Ainda segundo Verardo, promover a inclusão social e investir em organizações de forma que se garanta trabalho e renda é muito bom e adequado para o mundo trabalhista em que vivemos hoje. “Desenvolver alternativa de organização e de trabalho é fundamental. Trabalhar com produção, comercialização e consumo conforme perspectiva de comércio justo, solidário e sustentável é questão de vida ou morte para a humanidade”, garante. “Contudo, existem problemas quando ocorrem práticas compensatórias em vez de garantir sustentabilidade, solidariedade e autogestão. Isto é ruim. Também quando surgem interesses individuais ou corporativos de transformar empreendimentos de economia solidária em valores de trocas para outros objetivos que não o da autonomia e solidariedade dos que trabalham”.

Pereira complementa lembrando que, ao aumentar o padrão de vida dos trabalhadores, amplia também o acesso à educação, o tempo de permanência na escola, por exemplo. “Os ganhos sociais são muito grandes, mas tudo isso depende da expansão considerável da economia solidária, que é algo muito problemático para se conseguir, particularmente em um país tão desigual como é o Brasil”, acredita.

Verardo explica que todos podem participar de uma cooperativa, por exemplo, desde que concordem com os princípios da economia solidária e tenham práticas condizentes a promoção da solidariedade e autogestão. “Os princípios da economia solidária podem ser encontrados no portal do Fórum Brasileiro de Economia solidária:
www.fbes.org.br”, indica.

“É muito difícil se retornar a uma era de pleno emprego com o tipo de capitalismo que temos hoje. Então a economia solidária tende a crescer, sem muito entusiasmo, como complemento da economia capitalista. A tendência é haver conflito de interesse com o crescimento da economia solidária, mas é um terreno fértil que deve ser explorado ao máximo, buscando o seu crescimento, porque realmente não se pode ficar de braços cruzados diante da pobreza e da miséria que existe no Brasil”, finaliza Pereira.